Filha relata que criminoso tinha detalhes do quadro clínico do pai, internado no hospital de Ibirama
Imagine você receber uma mensagem do suposto médico do seu marido que está internado na UTI de um hospital público. O profissional pede no texto por dinheiro para fazer um exame às pressas, pois o paciente não pode esperar a autorização do SUS. A demora pode ser decisiva entre o paciente viver ou morrer. A situação é tão séria que o médico liga para falar dos riscos de aguardar muito tempo.
Qual seria a sua reação? A da mãe de Graciane Zemke foi imediatamente pedir o valor emprestado e garantir agilidade no tratamento do marido. Até que, poucos minutos após fazer a transferência para a conta indicada, quando o desespero havia aliviado, ela descobriu que todo o enredo era mentiroso. Histórias como essas têm se tornado cada vez mais comum diante da audácia dos golpistas.
Graciane conta que o pai deu entrada no Hospital Regional Alto Vale, em Rio do Sul, no dia 2 de março, com um sangramento digestivo alto, causado por varizes esofágicas. Exatamente uma semana depois, ele precisou de uma vaga na UTI e acabou transferido para o Hospital Doutor Waldomiro Colautti, em Ibirama, onde havia o leito disponível para Wilson Wilfred Zemke, de 62 anos.
A família foi até a unidade assinar a internação e passar os dados de contato para finalizar o cadastro. A família foi alertada sobre a gravidade do quadro do paciente. Até que, na manhã do último domingo (10), Janete recebeu o contato do suposto médico.
“Nos ligou um ‘médico’ plantonista da UTI do hospital. Ele se identificou como Marcos Antônio e passou todos os detalhes do caso para minha mãe. Disse que meu pai precisava fazer uma tomografia de urgência e que não conseguiria pelo SUS devido ao tempo de espera e gravidade do caso“, relembra a filha ainda em choque com o que aconteceu.
O homem do outro lado da linha tinha riqueza de detalhes do quadro de saúde do paciente e citava, inclusive, como seria se o quadro de Wilson agravasse. Os apontamentos eram tão semelhantes ao que já tinham ouvido que não passou pela cabeça da esposa se tratar de um golpe. Uma mensagem de áudio enviada pelo golpista mostra a artimanha para envolver a esposa do paciente (ouça o áudio aqui).
“Pela quantidade de informações, explicações e gravidade do quadro, nem pensamos duas vezes. Ele sabia cada mínimo detalhe do caso. Transferimos R$ 1.550 para a suposta clínica que ira realizar a tomografia. Enquanto minha mãe realizava o PIX, eu ligava para o hospital para confirmar, mas devido ao tempo de espera em linha, quando confirmaram que as informações não batiam, já era tarde“, afirma.
Graciane e a mãe já estavam cientes do golpe quando o criminoso voltou a fazer contato, na mesma manhã, pedindo mais R$ 650. Desta vez, o suposto médico dizia ter esquecido de cobrar o valor das ampolas de contraste. A família não fez o pagamento e imediatamente registrou o caso na Polícia Civil.
“Pela quantidade de informações, explicações e gravidade do quadro, nem pensamos duas vezes. Ele sabia cada mínimo detalhe do caso. Transferimos R$ 1.550 para a suposta clínica que ira realizar a tomografia. Enquanto minha mãe realizava o PIX, eu ligava para o hospital para confirmar, mas devido ao tempo de espera em linha, quando confirmaram que as informações não batiam, já era tarde“, afirma.
Graciane e a mãe já estavam cientes do golpe quando o criminoso voltou a fazer contato, na mesma manhã, pedindo mais R$ 650. Desta vez, o suposto médico dizia ter esquecido de cobrar o valor das ampolas de contraste. A família não fez o pagamento e imediatamente registrou o caso na Polícia Civil.
“Liguei novamente para o hospital perguntando se haviam passado nossos dados e o hospital falou que o mesmo médico tinha ligado mais cedo pedindo os nome e o telefone dos pacientes da UTI, e o hospital simplesmente passou, pois, segundo eles, o homem se identificou como médico da UTI de Rio do Sul“, afirma a filha de Wilson.
Prints mostram contato do “médico”
Caso é investigado
A direção do Hospital Doutor Waldomiro Colautti disse não ter um médico com o nome citado pelo golpista e frisou que não pede dinheiro a familiares e pacientes, pois atende integralmente pelo SUS. Ressaltou que irá apurar a situação internamente e reforçar aos funcionários e usuários sobre o golpe. Conforme a unidade, caso semelhante ocorreu durante a pandemia de Covid-19.
A Polícia Civil informou à reportagem que apura a denúncia.
Um post foi divulgado nas redes sociais do hospital de Ibirama com o alerta para evitar novas vítimas. Hospitais de Blumenau, como o Santo Antônio e o Santa Isabel, têm reforçado que não ligam ou mandam mensagens pedindo dinheiro para tratamentos de pessoas internadas.
Fonte: Talita Catie / Jornal de Santa Catarina / NSC Total